Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:
Mato Grosso do Sul acumula deflação de 12,74% nos preços da carne bovina nos últimos 12 meses, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o porcentual de queda é maior do que o nacional, que registra -11,06%.
Pelas projeções do banco Santander Brasil, a redução no País deve alcançar 11,35% até dezembro. O que sinaliza que as carnes tendem a fechar 2023 com a maior queda no acumulado até dezembro desde o início do Plano Real, em 1994. Caso o Estado mantenha as médias de redução, vai acompanhar a tendência nacional.
Conforme os dados do IBGE, a costela, um dos cortes mais consumidos no Estado, lidera o ranking de maiores decréscimos no período, com recuo de 18,20%, seguido pelo lagarto, com queda de 16,29% na soma dos 12 meses. Na sequência, a capa de filé teve decréscimo de 14,39%, o acém registrou queda de 13,92%, o músculo bovino teve redução acumulada de 12,52%, e o contrafilé, -10,98%.
O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo, explica que vários fatores influenciam a redução dos preços, com destaque para o início da cadeia produtiva.
“Começou com os embargos feitos pela China no início do ano, que desestruturaram todo o setor e mudaram completamente as expectativas dos produtores rurais”, afirma.
Ainda de acordo com o economista do SRCG, até o fim do ano passado, muitos produtores vinham sendo encorajados a reter matrizes por conta da forte demanda chinesa de anos anteriores, além de preços internos elevados para a arroba.
“Essa mudança de expectativas ocorrida inicialmente com o embargo fez com que se acelerasse a oferta de animais disponíveis para abate no segundo trimestre, levando à queda de preços que teve início em meados de abril e terminou no mês passado”, destaca Melo.
Para o mestre em Economia Lucas Mikael, o ciclo pecuário foi positivo em MS. “O reflexo foi uma oferta imensa de carne, que fez despencar o preço da arroba do boi gordo no atacado e teve repasse também para o varejo”, detalha.
Os preços das carnes registram queda desde janeiro deste ano na inflação oficial. Dos nove meses de 2023, oito meses registraram deflação, com exceção do mês de março, quando houve alta de 0,24% em Mato Grosso do Sul. Segundo o economista, ainda existe espaço para uma nova redução em outubro.
Já para os meses de novembro e dezembro, a tendência é de alta. “Pode ter alguma pressão de demanda sobre os preços em razão do Natal e da renda mais elevada da população”, projeta Mikael.
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontam que, de janeiro a setembro, a queda para o consumidor é de 13,38%, considerando o preço médio dos cortes de primeira (coxão mole, patinho e coxão duro). No primeiro mês do ano, o quilo da proteína animal era comercializado a R$ 39,58 e, em setembro, o preço médio foi a R$ 34,28.
A queda, apesar de expressiva, devolve apenas uma parte dos avanços sentidos pelos consumidores em anos anteriores. Em um cenário hipotético de relação direta entre produtores e consumidores, a queda de preços seria mais abrangente, de acordo com Staney Melo.
“O efeito de queda que os produtores sentiram chegou de forma mais tímida aos consumidores finais. O varejo, por exemplo, aproveitou o momento para recompor parte das perdas de margem dos anos pós-pandemia, já os frigoríficos deixaram de repassar parte das quedas para tentar frear parte dos prejuízos que tiveram com a quebra das exportações. Toda essa gama de relação fez com que o mercado demorasse mais para absorver o excedente de oferta”, detalha o economista do SRCG.
Mikael destaca que, mesmo não tão significativo quanto se espera, o panorama de redução para o consumidor final é positivo principalmente para as famílias de menor renda, que gastam uma parte maior da sua renda com itens essenciais como alimentos.
“Isso acaba trazendo um alívio e evitando endividamentos, além de proporcionar o consumo de carne, e não de produtos substitutos”, pondera.
No início da cadeia produtiva, após meses registrando desvalorização na arroba do boi gordo, o setor demostrou reação. Dados da Granos Corretora apontam que, entre setembro e outubro, o preço da arroba subiu 15% no mercado físico estadual, saindo de R$ 200,29 no mês passado para R$ 230,00 na cotação deste mês.
Conforme publicado pelo Correio do Estado na edição de 11 de outubro, no início de setembro, o gado passou a apresentar variação positiva no Estado.
A consultora técnica da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Sistema Famasul), Eliamar Oliveira, explica que a valorização recente na arroba tem seus motivos.
“É reflexo da dificuldade das indústrias em realizar negócios com os preços anteriores, preencher escalas de abate e atender à demanda”, analisa a consultora.
Correio do Estado