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Conhecido por dar o nome à associação criada para auxiliar crianças com síndrome de Down em Campo Grande, Juliano Varela, de 32 anos, será o primeiro candidato a vereador de Mato Grosso do Sul com essa alteração genética.
O fato inédito foi informado com exclusividade ao Correio do Estado pelo senador Nelsinho Trad, presidente estadual do PSD, explicando que será uma candidatura coletiva de Juliano Varela com o professor Marcio Ximenes Ramos, ex-presidente do Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos Florivaldo Vargas (Ismac).
Para quem não conhece, as candidaturas coletivas são formadas por duas ou mais pessoas, mas apenas uma delas assume o cargo como titular.
“Estamos proporcionando uma candidatura que defenda a inclusão das pessoas com deficiência com propriedade de quem sofre com as barreiras e o preconceito da sociedade. Essa é a principal intenção do PSD”, disse Nelsinho.
Em razão da deficiência intelectual de Juliano Varela, a mãe dele, Maria Lúcia Fernandes, a Malu”, responsável por criar em 28 de janeiro de 1994 a associação que leva o nome do filho, explicou à reportagem que o convite do senador foi feito há algum tempo.
“O vice-governador Barbosinha [José Carlos Barbosa] e o Nelsinho me propuseram isso há algum tempo e, imediatamente, disse não. Depois, o Pedro Pedrossian Neto [deputado estadual] me chamou para uma reunião e voltou a fazer o convite, e mais uma vez disse não”, recordou Malu.
Ela revelou que recusou o convite porque o filho tem deficiência intelectual e, portanto, não conseguiria defender, em um mandato de vereador por Campo Grande, a causa das pessoas com algum tipo de deficiência.
“Porém, há duas semanas, o Nelsinho me explicou que seria possível fazer um mandato coletivo, ou seja, caso o Juliano seja eleito, não seria vereador sozinho, teria uma outra pessoa com ele no mandato, que não tenha deficiência intelectual”, explicou.
Nessas circunstâncias, Malu topou a empreitada e iniciou uma corrida contra o tempo para encontrar a pessoa certa para formar a parceira com o filho.
“Pensei em todo mundo que eu confiasse e, como não conseguia encontrar, já estava desistindo novamente. Porém, pedi ajuda a Deus para pôr no meu caminho alguém que pudesse ajudar o meu filho. Foi quando uma amiga minha indicou o Marcio”, recordou.
Imediatamente, Malu ligou para o ex-presidente do Ismac e fez a proposta da candidatura coletiva.
“Ele ficou mudo e depois respondeu que sempre foi o sonho da vida dele ser vereador, mas que nunca teria condições. Expliquei certinho como funcionava a candidatura coletiva, e o Marcio topou, falando que ele seria o cérebro e o meu filho os seus olhos”, lembrou.
Ela acrescentou que Marcio Ximenes foi presidente do Ismac por três mandatos consecutivos e faz parte da luta pela inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.
“Acredito que a candidatura deles será um divisor de águas, porque as pessoas precisam conviver com a deficiência, e os dois vão levar isso para dentro da Câmara. Estou emocionada, porque, nesses 30 anos de militância e 32 anos de mãe de um deficiente intelectual, nem nos meus maiores devaneios imaginei ver o meu filho na política”, assegurou.
Marcio Ximenes revelou ao Correio do Estado que sempre quis ser político, mas nunca teve oportunidade.
“Perdi a visão com 9 anos, fiz uma cirurgia e voltei a enxergar até os 14 anos, quando voltei a ficar cego e fui para o Ismac, onde fiz todo o meu processo de reabilitação”, recordou.
Ele lembrou ainda que, graças ao Ismac, conseguiu trabalhar na área da saúde e se formou em Pedagogia.
“Ao longo desses anos todos, sempre atuei na defesa das pessoas com deficiência visual e das pessoas com outros tipos de deficiência. Sempre quis entrar no mundo da política, e agora surgiu essa oportunidade de formar a parceria com o Juliano, que dá nome à instituição e é símbolo do trabalho da Malu”, ressaltou.
O ex-presidente disse à reportagem que acredita que pode dar muito certo a candidatura.
“A gente precisa dar um choque de realidade na sociedade, pois acredito que as pessoas têm de acordar para olhar para nós e enxergar que somos capazes sim e que nós temos total condição de ocupar qualquer espaço”, argumentou.
Marcio Ximenes pontuou que, de quatro em quarto anos, os políticos vão até o Ismac, ao Juliano Varela e às demais instituições pedirem votos e prometerem políticas voltadas para as pessoas com deficiência.
“Porém, terminam as eleições, muitos deles somem e, comigo e o Juliano, isso não vai acontecer, porque, diferente deles, a gente não pode esquecer das nossas dificuldades diárias, pois somos pessoas com deficiência 24 horas por dia. Então, nós vamos estar juntos lutando, olhando e buscando pelos nossos direitos”, avisou.