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A presença incomum de um veado campeiro parcialmente albino, caracterizado pelo distúrbio genético conhecido como piebaldismo, nas florestas plantadas de eucalipto em Inocência (MS), proporcionou um registro raro, feito pelos colaboradores da Eldorado Brasil. As aparições foram capturadas em imagens que destacam a beleza singular desse animal, em um ambiente pouco convencional para sua espécie.
Segundo o professor especialista em cervídeos e doutor em genética da Unesp Jaboticabal, José Maurício Barbanti Duarte, a observação desse animal em uma área tão incomum de seu habitat natural é uma surpresa para pesquisadores e especialistas na área. Isso pode estar relacionado à busca por proteção que esses animais não encontram em seu ambiente habitual e as sombras que os eucaliptos oferecem. Esse sombreamento extra pode ser particularmente benéfico para esse indivíduo, que normalmente ocupa campos abertos, onde a exposição ao sol é mais intensa.
As observações ocorreram em três fazendas da Eldorado Brasil, dedicadas ao cultivo de florestas para a produção de celulose. O primeiro avistamento ocorreu em janeiro de 2020, na fazenda Santa Helena, seguido por um último registro em novembro de 2023, na fazenda vizinha, São Matheus. Ao longo desse período, foram documentados 15 avistamentos, sendo a maioria deles (11) na fazenda Santa Helena.
Embora ambas as áreas sejam utilizadas para o cultivo de eucalipto, elas também abrigam áreas de conservação, reserva legal e de preservação permanente.
O veado campeiro é uma espécie historicamente distribuída por toda a região central da América do Sul, podendo ser encontrado em diversos biomas, incluindo a Caatinga, o Cerrado, o Pantanal e os Campos Sulinos. Adaptado a ambientes de vegetação aberta, não é comumente associado às florestas.
Em espaços muito abertos, como esses, os animais com albinismo têm poucas chances de sobrevivência. Portanto, os ambientes com florestas de eucalipto podem estar desempenhando um papel crucial na sobrevivência desse animal, de acordo com o professor.
A Eldorado Brasil Celulose, responsável pelas fazendas, mantém mais de 293 mil hectares de florestas plantadas em Mato Grosso do Sul, realizando monitoramento regular da fauna e flora, o que possibilita registros como esse. Nessas áreas, também já foram flagradas outras espécies, como onça-parda, tatu-canastra, cachorro-vinagre e outros animais.
Esse monitoramento rigoroso fundamenta a recomendação que a empresa recebeu para Declaração de Serviços Ecossistêmicos do FSC® (Forest Stewardship Council® – FSC-C113536 – Conselho de Manejo Florestal), um acréscimo significativo à sua certificação de manejo florestal, atestando os impactos positivos de suas práticas na conservação da biodiversidade, no sequestro e armazenamento de carbono, além do manejo responsável das bacias hidrográficas.
“A certificação reforça o nosso compromisso com as boas práticas de ESG (Ambiental, Social e de Governança) e destaca a eficácia das nossas políticas e ações em prol da conservação da biodiversidade. O registro do animal nos orgulha e comprova nosso manejo responsável e o bom convívio entre as espécies”, afirma André Lucas Almeida de Lima, Biólogo, que atua na área de sustentabilidade da Eldorado Brasil.
Além disso, a empresa desenvolve iniciativas que potencializam os benefícios das florestas, como o Programa de Restauração Ambiental, que recupera áreas degradadas, preservando a diversidade biológica e fortalecendo a regeneração natural, enquanto o Estudo de Conectividade dos Fragmentos Florestais define corredores ecológicos para garantir a continuidade genética entre os fragmentos. A empresa também promove o Programa Você e o Bicho, incentivando o registro voluntário de animais silvestres por seus colaboradores, contribuindo para o entendimento da fauna local e para a conscientização por meio da educação ambiental.
Sobre o veado campeiro
O veado campeiro é uma espécie que pesa em média cerca de 30kg. Os machos apresentam chifres, geralmente com três ramos em cada lado, totalizando seis pontas quando adultos. Esses chifres são trocados anualmente, sendo a única espécie brasileira com ciclos anuais de chifres.
Em sua dieta, esses animais são predominantemente herbívoros, alimentando-se de brotos arbustivos e arbóreos, evitando que essas plantas dominem os espaços abertos que preferem habitar. Dessa forma, desempenham um papel importante como “engenheiros” do ecossistema.
Este cervídeo é notavelmente dócil e permite a aproximação das pessoas, o que é raro em outras espécies. Sua presença é facilmente avistada na vida selvagem, o que não ocorre com muitas outras espécies que tendem a se esconder na mata. Porém, essa visibilidade aumentada também os torna mais vulneráveis à caça, representando uma ameaça significativa para sua sobrevivência.
O albinismo é um traço genético recessivo amplamente reconhecido, tanto em humanos quanto em outras espécies animais. Nos animais afetados, a ausência de pigmentação resulta em pelagem completamente branca e olhos vermelhos. Por outro lado, o piebaldismo é uma condição na qual ocorre um clareamento parcial da pelagem, mantendo os olhos escuros e algumas regiões do corpo com pigmentação. Geralmente, essas características se manifestam em populações onde há cruzamentos endogâmicos, ou seja, entre parentes próximos, o que facilita a expressão desses genes recessivos.
Embora o albinismo possa conferir uma aparência pitoresca aos animais afetados, é importante observar que sua ocorrência frequentemente está ligada a relações consanguíneas. Isso ocorre em populações com tamanho reduzido, onde a endogamia se torna mais comum.
“Fenotipicamente, o albinismo não é favorável para a espécie, pois os animais tendem a apresentar uma alta incidência de carcinomas devido à falta de proteção na pele. Na natureza, essa característica tende a ser eliminada ao longo do tempo, uma vez que os animais afetados têm uma expectativa de vida significativamente reduzida em comparação com aqueles sem a condição”, explica Duarte.
Para um animal com albinismo ou piebaldismo, áreas de floresta como essa podem desempenhar um papel crucial. O sombreamento oferecido pelo ambiente florestal pode ser essencial para a proteção desses indivíduos contra os efeitos nocivos da exposição solar, contribuindo assim para sua sobrevivência.