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Para um ex-desembargador do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), deveria ser uma questão trivial. Na avaliação dele, fosse um contrato de compra e venda de padaria, o juiz daria sentença de quatro páginas e o caso chegaria ao fim.
Mas não se trata de uma compra/venda de padaria, o processo principal já tem mais de 6.000 páginas, e “acabar” não está no horizonte.
A disputa entre J&F e Paper Excellence pelo controle acionário da Eldorado Celulose, em vez de terminar, se tornou uma teia de aranha de ações paralelas.
A J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, aceitou vender a empresa para a Paper, companhia do indonésio Jackson Wijaya, por R$ 15 bilhões, em setembro de 2017.
Meses depois, o comprador entrou na Justiça por alegar que o vendedor não colaborava para a liberação das garantias, o que concluiria o negócio.
Foi o pontapé inicial na ramificação de processos. Pelos seis anos seguintes, em briga que para observadores externos se tornou pessoal, surgiram.
Muito pouco disso relacionado ao acordo de compra e venda em si. A última amostra de que a questão não é um simples desentendimento empresarial aconteceu em novembro do ano passado.
Por sugestão da arbitragem, houve encontro de acionistas em Frankfurt, na Alemanha. Joesley e Wijaya se reuniram, acompanhados por executivos de J&F e Paper.
“Você quer me foder?”, perguntou repetidas vezes o bilionário brasileiro para o bilionário indonésio.
A irritação era porque Wijaya não aceitou a única proposta que o adversário colocou sobre a mesa: pegar de volta os R$ 3,8 bilhões que pagou em 2017, devolver à J&F os 49,41% das ações que hoje são da Paper e seguir a vida.
No último trimestre de 2023, a Eldorado teve lucro líquido de R$ 444 milhões.
Jackson respondeu que não, e o presidente da sua companhia no Brasil, Claudio Cotrim, ficou indignado. Para Joesley e Francisco de Assis e Silva, diretor jurídico da J&F, era uma oferta razoável. Eles creem que, se a contenda seguir na esfera judicial e política, o negócio será desfeito de qualquer forma.
Segundo a Paper, Joesley teria feito ameaças de que teria influência política em Brasília e não havia risco de que ele perdesse essa briga.
Isso reforça uma visão de advogados que observam o caso de que o empresário considera acintosa a possibilidade de ser derrotado no Brasil por um estrangeiro. A J&F desmente essa versão e diz que as ameaças não ocorreram.
A carteira de ações e o restante do pagamento dos R$ 15 bilhões por determinação da arbitragem estão sob custódia do Itaú. Foram aplicados em um fundo de investimento. Hoje estão disponíveis R$ 8,66 bilhões.
A divergência na transferência acionária detonou o início do processo de arbitragem. A Paper venceu por 3 a 0. A J&F contestou o resultado e pediu a anulação.